Insisto na minha poética mesmo nos dias mais duros. Insisto na busca da minha arte mesmo quando a prudência grita meu nome acompanhado de palavras cruéis
São muitos os medos. É muito intenso o olhar refletido no espelho. Que tipo de valor tem a arte? Que tipo de valor tem ser capaz de ver a beleza do mundo? Que tipo de valor tem a sensibilidade e as delicadezas?
Eu preciso da arte para viver.
Mas vou viver de quê?
PALAVRAS E FLORES
Para suportar esse empilhamento de tormentas, escrevo.
Nem colagens, fotos, flores, cerâmicas, pinturas, bordados ou cianotipias me bastam. Nada do que é plástico ou visual basta. Só a poesia me contém. Só as palavras conseguem gritar minha dor no volume que eu sinto.
Nem sei se esse volume todo ecoa por aí na mesma intensidade. Nem ouso investigar. Mas a vibração aqui é legítima.
Minha arte plástica não está separada dos meus processos com a escrita. A plasticidade das espécies botânicas exerce sobre mim o mesmo fascínio que um diário em minhas mãos. Pela estrada, palavras e flores sempre se encontram.
Tenho um herbário de memórias, coleciono cadernos, envio cartas e, agora, inicio o Diário de Triz.
Só o tempo vai explicar os agrupamentos de tantas letras.
CARTAS E CAMINHOS
Escrevo cartas como se implorasse o perdão.
Escrevo cartas como se minha vida dependesse disso.
Invento cartas porque minha memória é falha.
Escrevo cartas como quem inventa um outro final.
Escrevo cartas para tentar me entender.
Escrevo cartas para destinatários que nunca conheci.
Invento cartas porque a vida é uma ficção.
Escrevo cartas como quem inventa o ordinário.
Escrevo cartas para serem escondidas.
Escrevo cartas com tudo o que sobra.
Invento cartas que falam de delicadezas.
Escrevo cartas que inventam uma arte.
Escrevo cartas como um ofício.
Escrevo cartas por agradecimento.
Invento cartas que nunca são enviadas.
Escrevo cartas para serem queimadas.
Escrevo cartas.
Escrevo cartas.
Escrevo cartas.
Invento cartas que ficam pelo caminho.
Escrevo cartas que inventam um caminho.
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