aquarela em residência artística na mata

Na cidade, seria visto como loucura. No Ateliê de Temporada, na mata, estou acessando a mulher selvagem que sou

Distante das cobranças cotidianas comuns na cidade, quero ir lá na cabana da alma feminina*, mergulhar nas minhas dualidades mais profundas, com a clareza de que certo e errado não podem ser conceitos rígidos. Antes de falar, quero sentir tudo em meu próprio corpo. Este foi um dos propósitos traçados como guia para o Ateliê de Temporada, ainda nos preparativos, antes de estar aqui. A ideia é realmente permitir que minha arte, que sempre foi muito pautada pelo racional, transite em outros lugares.

Banhada pelas águas dos rios, cachoeiras e chuvas, minha casca grossa vai se liquefazendo. Tomando o floral de Ageratum** de forma intensiva na água do dia a dia, vou dissolvendo minha massa espiritual que se apresenta em várias cores. Ora os tons mais escuros e sombrios velam toda alegria, ora a vibração solar floresce.

Em estado de residência

Quero vestir e sentir o mundo a partir da minha própria pele. Os dias de chuva têm corroborado o caminho de distanciamento do mundo externo, em que a não ação ajuda a perceber com mais clareza a voz interna. Mas sei que este é um lugar sensível e profundo, por vezes oculto.

Ouso dizer que estou em busca da sabedoria feminina no seu nível mais profundo, talvez como representado pela Sacerdotisa***. Passeio pelo mistério, pelo silêncio, pela meditação, pelo poder das forças psíquicas, pela intuição. Atravesso as dualidades, mas estou longe de saber filtrar tudo o que vejo. A dualidade não é incoerente, o problema é estabelecer definições rígidas quando o feminino é fluido como a água.

Mantenho-me atenta, lembrando que estou em estado de residência artística. Faço minhas anotações, registro ideias e processos. E tento seguir cronogramas de trabalho, mesmo que tudo seja muito flexível.

Coincidências e conexões

A casa que nos recebe para este Ateliê de Temporada e a abundante natureza ao redor têm se manifestado de formas incríveis. Todo o acaso tem sido incorporado. Na realidade, apenas tenho deixado as coisas fluírem naturalmente. E, com um olhar retroativo, encontro conexões importantes. A cor roxa é uma dessas presenças que observo nas artes que tenho feito.

Aquarela sobre papel

Trouxe diferentes materiais para experimentar de forma livre nesses dias de Ateliê de Temporada. A aquarela foi a técnica escolhida para os primeiros dias de imersão. Não foi uma escolha exatamente racional, mas entendo que não poderia ter feito melhor escolha. Ela está muito conectada a um processo maior e os resultados têm me permitido navegar por caminhos novos. E mais, a aquarela tem se mostrado um caminho potente para minha expressão artística. E a partir dos experimentos feitos aqui, viajo no tempo e projeto sonhos futuros.

*Referência a Clarissa Pinkola Estés

**Do sistema de Florais de Minas

***Um Arcano do Tarot que representa esse arquétipo dual feminino, também chamado de Papisa. 

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