O artista ecoqueer cultiva intimidade com as plantas. São relações estéticas, políticas e eróticas

Nesta terça-feira, 21, Zheng Bo divulgou em seu perfil do Instagram o lançamento de seu primeiro livro. “WANWU I levou dois anos para ser feito. A obra inclui seis conversas que tive com pensadores afins para articular alguns aprendizados em estética ecológica e indigeneidade planetária”, escreveu o artista. Entre os participantes estão Annie Sprinkle e Beth Stephens, artistas ecossexuais pioneiras, e TJ Demos, escritor de arte e ecologia política, com a pauta Florescer.

Print de publicação do artista no Instagram

Aproveito esta notícia como gancho para dar início a uma série de matutas sobre artistas que dialogam com flores, plantas, natureza e outros temas do meu jardim. Escrever é uma forma de estudar e ampliar meu entendimento sobre a arte. É importante reconhecer as portas que já foram abertas até aqui. O que, também, me desperta um impulso para encontrar um caminho de pesquisa mais autêntico.

Artista ecoqueer

Uma década pesquisando o tema plantas corrobora a autoridade de Zheng Bo no meio artístico. Ele mora em um vilarejo no lado sul da ilha de Lantau, Hong Kong. Ele trata o tema da igualdade entre múltiplas espécies. Ele investiga o passado e imagina um futuro a partir da perspectiva de comunidades e plantas marginalizadas. Ele cultiva sabedoria ecológica para um bom antropoceno.

A arte de Zheng Bo não apresenta conclusões, mas dá início a conversas importantes para que questões cruciais de relacionamento dos seres humanos com o planeta sejam resolvidas. Se você ainda não o conhece, sugiro que visite o site oficial do artista para stalkear todos os projetos incríveis assinados por ele.

E, sim, ele é um dos artistas que acompanho e, definitivamente, propõe muitas inquietações importantes, que influenciam meu trabalho.

Bamboo as Method, 2018

Como uma planta pode ser política?

Normalmente, plantas são observadas por suas características biológicas. Zheng Bo sugere uma nova perspectiva, a política. Por exemplo, as árvores estão todas conectadas por meio de suas raízes e fungos presentes no solo, o que permite a troca de informações e nutrientes entre elas. Existe o ponto de vista biológico para entender todas essas conexões, mas também podemos olhar para essa estrutura como sendo a construção de uma comunidade, a diplomacia na relação entre dois reinos. “Se olharmos para as plantas à luz da política, talvez possamos aprender como elas fazem política e possamos começar a praticar uma política melhor”.

Pteridophilia explora o potencial eco-queer

After Science Garden, 2018

Ecos da natureza

A minha conexão com Zheng Bo acontece porque muitas das falas do artista ecoam em mim com fluidez e despertam confortante sensação de pertencimento. Ele é genial, mas me sinto próxima quando escuto algumas dessas frases, pinceladas e traduzidas por mim livremente a partir de vídeos do artista:

  • “Uma das minhas principais questões é o desrespeito com o planeta, com os seres, não apenas com os humanos”. 
  • “Vivemos em um momento em que muitos estão seguindo para um futuro mais que humano”.
  • “Precisamos encontrar formas de não apenas apreciar a natureza, mas realmente reconstruir nossas conexões com outros seres”.
  •  “As pessoas insistem em acreditar que podem controlar todas as coisas ao invés de perceber a experiência de vida neste planeta como colaborativa e vibrante”.
  • “Eu não estudo as plantas, eu passo tempo com elas, eu sinto”.
  • “É importante ver a existência das plantas por uma perspectiva mais completa, que vá além das plantas como comida, medicina ou decoração”. 
  • “Estou realmente interessado na relação entre plantas e outros seres”.

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