Exposição no TCU apresenta caminho de pedras suspensas que leva a uma biblioteca encantada, onde brota esperança
Na quinta-feira, 23, estive na vernissage da exposição A parte pelo todo, de Lucas Dupin. Impactada pela fala do artista durante a cerimônia de abertura, escrevo.
Dupin disse: “O grande trunfo de uma exposição é como uma pesquisa vai afetar as pessoas e isso não dá para ser medido. O espaço cultural não se justifica por números, ou por receita, ou por entradas. Como vimos na pandemia, o que sobra no final é a subjetividade. E a arte dá conta disso”.
Com o corpo ainda sensibilizado pela vibração de tantos aplausos vindos, em grande parte, de outros artistas que prestigiavam o colega, adentrei na Galeria Marcantonio Vilaça do Centro Cultural TCU. Me atentei ao sentir enquanto flertava com as obras.

Antes disso
Ao ver o convite para a mostra, já fiquei abarrotada de pensamentos. Para ser mais precisa, retomei os tempos de estudante e da professora em sala de aula falando sobre figuras de linguagem. Você lembra da metonímia? Aquela história de que uma palavra é substituída por outra… E podemos ter, mais especificamente, a sinédoque, uma metonímia em que a troca dos termos traz a ideia de extensão, como a parte pelo todo. Na regra, não se trata de metáforas e nem de analogias. Mas, no campo poético das artes visuais, metáforas e analogias são sempre muito bem-vindas. Inerentes e necessárias, eu diria. E acabei misturando todas as figuras enquanto matutava possibilidades do que poderia estar além de cada parte.

Biblioteca por vir
Já tinha visto algumas imagens de trabalhos do Lupin e fui direto em busca da Biblioteca por vir. Projetava na obra minha estante dos sonhos, onde cultivo poesia e trepadeiras. Precisava respirar literatura junto com aquelas plantas, ou será que elas preferem não ficção?
O encontro foi como uma boa leitura, inquietante, com poucas respostas e muitas reflexões. Não sei se a planta se alimenta do livro ou se é o livro que precisa da planta. De onde vem todos aqueles fragmentos? Que tipo de narrativa ainda será revelada com o tempo? Quanto tempo levará? Quem conta essa história? Nessa iconofagia poética, insisto em ser otimista.
E depois de vagar por cada ranhura vegetal pintada com aquarela, seguir caminhos desenhados pela pólvora e me deixar, mesmo que momentaneamente, ofuscar pelo ouro, retomo a minha própria pesquisa. Nas fissuras também se pode florescer.
As partes
Tenho certeza que alguém passou fumando por aqui, sou capaz de sentir o cheiro. Veja! Uma bituca de cigarro. Quem fumou esse beque? Alguém com batom cor de rosa. Quem é que gosta de palheiro? Com filtro. Sem filtro. Nossa, muito amassada. Parece úmida. E essa muito queimada. Uma não, são cinquenta aquarelas de bitucas. Cinquenta partes de resíduos. Cinquenta partes de de uma história muito maior, de histórias muito maiores.
São tantas pedras no caminho que já nem sabemos mais onde pisamos. Bem, eu não sei. Você olha para o chão? Talvez esteja pisando em ouro ou carne, mas nem tenha se dado conta. Mas se for só uma partezinha talvez nem faça diferença no todo? Calma! Espera! Vamos colocar luz nas minorias.
A cabeça pode acabar pesando demais, ainda bem que Dupin me ofereceu o escapismo por meio de pedras flutuantes. Fui parar num mundo aquarelado, cheio de dobras e cores, onde habita o belo.



Serviço:
A PARTE PELO TODO, de Lucas Dupin.
Instalações, objetos, aquarelas, vídeos, fotoperformances e fotografias
Curadoria | Cinara Barbosa
Visitação | De 24 de março a 19 de agosto. Segunda a sexta, das 9h às 18h
Visitação para escolas | De segunda a sexta, mediante agendamento
Onde | Galeria Marcantonio Vilaça, Centro Cultural TCU
Telefone | (61) 3527-5221
Entrada | Gratuita
Classificação indicativa | Livre para todos os públicos
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