No início de 2023, durante uma conversa com a artista Suyan de Mattos – quem eu admiro e respeito muito –, ela me desafiou a fazer um jardim de plástico, alguma arte de plástico. Plástico mesmo!
Enquanto Suyan falava, eu só conseguia pensar em um vídeo da eterna Rita Lee falando sobre a namoradinha do Brasil, dizendo que ela era toda perfeitinha, boazinha, chata pra caralho. No caso, a diva era a Suyan e a chata era eu.
[Se você não pegou essa referência de vídeo, vale procurar]
Caramba! Plástico? Eu nunca gostei de flores de plástico. À epoca, especialmente, eu me dedicava a lotar minha vida de plantas, plantas reais. Eu pesquisava flores, flores reais. Aquilo me pareceu uma grande sacanagem. No entanto, anotei a frase no meu diário e, vez ou outra, retornava àquela página.
Curiosa, como sou, ampliei meu olhar que antes se atentava mais a trabalhos de artistas como Zheng Bo ou Celeida Tostes – que trabalham com coisas mais naturais, orgânicas. Num piscar de olhos, muitas referências estéticas depois, comecei a gostar de alguma coisa no trabalho de artistas como Luiz Hermano. Logo e, definitivamente, me encantei pela arte de Hermano.
Quando vi aquelas centenas de brinquedinhos desconstruídos e reposicionados na construção de uma nova narrativa, me identifiquei com o lúdico, com a ironia e sarcasmo daquela brincadeira nada inocente de Hermano. Rolou uma epifania. Eu já conhecia as regras do jogo, e mais, eu já era uma jogadora. Alí tive uma virada de chave na minha forma de perceber o plástico como minha própria matéria.
Em paz com a possibilidade de levar o plástico e outros sintéticos eternos para o campo expositivo, reli meu diário e a voz de Suyan mais uma vez ecoou: “Faça um jardim de plástico!”. Só então entendi com clareza que sim, eu queria fazer um jardim de plástico.

Dei muitas voltas com as palavras deste texto porque precisei caminhar muito pelo meu jardim antes de entender que falo sobre a efemeridade da vida e outras miudezas fugazes. Neste contexto, o plástico escancara o medo da morte – que anda de mãos dadas com a busca pelo eterno. Pronto. Somos aliados.
Mais do que isso. Às vezes, fico um pouco desatenta e acabo me tornando parte de um mundo plastificado, totalmente falso, um mundo falso feito de plástico.
E, claro, como o tema meio ambiente me interessa, o plástico é um prato cheio para críticas.
Neste momento, tenho alguns estudos em andamento no ateliê. E várias obras com o uso do plástico estão por vir.
Não perca!

Veja o que escrevi sobre a obra “LED – Letal e Degenerativo”

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