Não sei se tenho estrutura emocional para expor em uma enxovia, mas vou descobrir
Você conhece a Cidade de Goiás? [Ou seria Goyaz?] Eliminei essa falha do meu currículo apenas fim de semana passado. No domingo, 7 de maio, fui ao MuBan – Museu das Bandeiras, no famoso centro histórico, para levar uma obra minha que fará parte da exposição ObraBarro, prevista para acontecer lá, nos próximos meses, a partir de 17 de maio.



Eu já estava sentindo um fervor em meu peito desde que recebi um convite da curadora, Suyan de Mattos, para participar da mostra coletiva. Quando entendi que tudo isso aconteceria na cidade de Cora Coralina, dei uma surtada de leve. Na véspera, quando entrei naquelas ruas estreitas, com chão de pedras e casinhas coloniais coloridas, entendi que não tenho nem eira nem beira emocional para fingir costume.
Mas nenhuma das arritmias anteriores havia, decentemente, me preparado para entrar na sala expositiva do MuBan onde minha obra será exposta. [Por favor, acrescente todos os seus palavrões preferidos neste momento. Ou, apenas se cale, como eu fiz] A sala que naquele dia abrigava a sensível e arrebatadora exposição da artista Míriam Pires já foi enxovia.
Eu entrei pela porta, o ambiente estava impecavelmente limpo e iluminado, mas qualquer traço de fantasia era esmagado pela bestial realidade.
De olhos bem abertos para o passado, era possível sentir a dor dos açoites e feridas abertas na pele. As toras de madeiras escuras que cobrem piso, paredes e teto são as mesmas há séculos. Mesmo que você não veja, tudo está impregnado de sangue, dor, escravidão, enforcamentos, abandono, suor, punimento, fezes, restos de comida e tantas outras dores que você puder associar a uma típica prisão dos anos 1700 até 1949.



Eu ainda tentava escapar pelas grades com vista para a serra em um dia de céu azul, mas tive a sorte de contar com a arte de Míriam para deixar meus pés bem presos ao chão. Digo, literalmente, me sentei no meio da galeria, no chão, fiquei, fiquei…. fui ficando…. Estava presa nas cartas que a artista revisitou nos arquivos do museu e transformou em serigrafia sobre roupas brancas, que faziam toda aquela memória flutuar ao meu redor no bafo de um dia quente, muito quente.
Que lugar impactante! Ainda não sei se tanto peso histórico torna a obra que ali se encontra gigante ou insignificante. Mas retornarei lá para, mais uma vez, sentir na pele. E estendo o convite a você.
ObraBarro estará no Muban a partir de 17 de maio.
Em breve, farei um post específico sobre a exposição.
One response
Quanta sensibilidade em suas palavras, Beatriz.
Seu olhar fomenta minhas emoções.
Quero ver sua arte reverberando neste lugar tão cheio de significado.