Parece bruxaria. Uma casa mágica em Cavalcante virou meu ateliê
Estou de férias na Chapada dos Veadeiros, meu cantinho preferido de Cerrado. Trouxe o ateliê na mala e a casinha alugada para esses dias virou residência artística, o que tenho chamado de Ateliê de Temporada.



Estou imersa na natureza. Me desafiando diariamente com rotinas artísticas e atividades que intensificam a minha relação com a paisagem. Meu corpo vai somatizando tudo! Antes que eu possa elaborar mais uma carta ou finalizar mais um quadro, meu corpo já sente tudo, já reage ao ambiente e condições. A produção não é o fim, mas o meio para tirar de mim tudo o que vai ficando engasgado, marcado ou sugerido.
Então, sigo acumulando sensações corpóreas e ampliando meu herbário de memórias. Ou fazendo, apenas fazendo (repetindo meus verbos), até que em algum momento o próprio fazer seja o sentido.
Passo pelo tempo
Neste momento, não me interessa exatamente o futuro. Nem o presente faz sentido. Estou vivendo no passado, naquele momento que antecede a criação, em um amontoado indefinido de possibilidades.
Às vezes, parece que o tempo foi suspenso. Tudo está em tempo suspenso. E tenho cada vez mais consciência das infinitas possibilidades de uma vida. Ilusões do eu?
Meu tempo interior não segue frações exatas e constantes, nem dá ordens. Meu tempo bagunça todas essas percepções, traz confusão. Aliás, o tempo está parado. Eu é que tenho passado por ele. Do meu jeito, ora confiante, ora titubeante a cada passo. Incansável vaivém….
Processos artísticos
Coloco-me em lugar de residência, estou apenas em espera, numa vigília que me incomoda e me rouba as horas de sono. Como diz Mia Couto, o autor que escolhi para me acompanhar nestes dias:
“Somos espera
daquilo que não se conhece
e, quando se conhece,
não se sabe o nome”

Estou imersa na natureza, mas minha conexão com o mundo lá fora por meio das flores é apenas um dos pontos importantes. Viajo em mim. Fecho os olhos para ver o imaginário. A arte não vem só da beleza, mas também da escuridão. Vivo no passado procurando uma forma de encontrar o futuro. Claro que, às vezes, tudo fica muito intenso. Não tenho certeza se quero ir mais fundo ou escapar.
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